Meu pai não me ensinou tudo o que eu sei. Aliás, não me ocorre nada que ele tenha me ensinado... Não sei empinar pipa, não pesco (pelo menos disso me orgulho), custei a andar de bicicleta e nadar, o que nem significa literalmente que eu tenha aprendido... Meu pai definitivamente não foi meu herói, o coitado viveu cercado pelas personalidades sutilmente impositivas de quatro mulheres... Não tinha espaço nem vez. Em seus freqüentes e vazios discursos, nem era ouvido. O que dizia pra mim, minha mãe e irmã entrava por um ouvido e saía pelo outro...
Minha mãe tampouco foi minha melhor amiga. As experiências que tive ao crescer e virar mulher não foram sequer celebradas por ela, como passar no vestibular ou arrumar o primeiro emprego. Parecia que não era mais do que minha obrigação.
Sim, sei que tive uma irmã mais velha, que poderia ter me ensinado muito, mas estávamos tão ocupadas brigando e sendo inimigas que isso não foi possível.
Quanto as minhas amigas... Teve até um período que duvidei te-las...
Em relação a minha doutrina religiosa foi numa curta fase de minha vida...
Enfim, minhas referencias em vida são praticamente nulas.
É triste mas é verdade: não tive grandes mestres. Claro, creio totalmente em Deus e nEle busco refúgio, mas somos de carne e osso, né? Por mais que eu vislumbre algo além da forma material, sou gente! Encarnada, com trabalho, fome, responsabilidades, casa pra cuidar, desejos, vontades, dores e ciclos.
E quando bate uma dúvida, a quem recorrer? Mudo ou não mudo de emprego? Esta mulher é minha amiga de verdade ou está extrapolando os limites? Dedico-me mais a vida pessoal ou a carreira neste momento? É o momento certo de comprar meu apartamento nesta cidade para onde acabei de me mudar? Qual a melhor pós-graduação a fazer? Devo investir na bolsa?
Sei que as dúvidas são diversas e intrínsecas da vida, mas será que o melhor é procurar um corretor de seguros, um consultor imobiliário, um coach pra minha carreira, uma terapeuta, meu gerente? O melhor é me cercar de especialistas pra cada dúvida que eu tiver?
Tenho a terrível tendência a buscar o senhor e salvador pra minha vida... Estarei tão errada assim? Em tamanha distorção?
Tenho meus motivos... Meus tristes e profundos motivos... Dores da alma, feridas de infância... Chame do que quiser, eu reconheço...
Tenho ainda a doentia tendência a projetar isso em meus relacionamentos amorosos... Lamentavelmente óbvio, já que é na relação amorosa onde nos mostramos mais, onde partilhamos mais intimidade, onde convivemos mais, depositamos mais expectativas e onde fazemos mais planos...
Tem remédio?
Talvez ajude procurar um guru espiritual... Guru, vocês sabem, é um pouco mais que um professor, mas um guia sagrado para a nossa auto-realização. Ele conhece o caminho e te leva por ele. Te mostra a verdade. Esta verdade óbvia que está dentro de nós, mas que ficamos procurando por toda parte...
Não posso ser tão injusta: estou cercada de muitos e maravilhosos amigos. A quem eu recorro sempre que preciso, cada qual a sua melhor especialidade. Busco, abuso, peço mesmo! Eles me salvam! Meus amigos são os grandes gurus espirituais da minha vida, que me dão sustento... Por isso sinto tanta falta deles. Por isso sou tão carinhosa e atenciosa com eles. Por isso os respeito e os ajudo também: é com eles que experimento esta relação de troca... Meus amigos são minha família...
Parafraseando... Em seu livro, "Mulheres que Correm com os Lobos", Clarissa Pinkola escreveu:
"Dizem que tudo o que buscamos, também nos busca e, se ficamos quietos, o que buscamos nos encontrará. É algo que leva muito tempo esperando por nós. Enquanto não chegue, nada faças. Descansa. Tu verás o que acontece enquanto isto.”
Então está lançado pro universo... Procura-se um guru. Eu preciso sim. Pra me dar um "ok"... "Vai, pode continuar. Você está indo pelo caminho certo... Keep walking..."
Você já tem o seu???
Bjs
Bi
